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Artigo “O Planejamento no Paraná” por Ário Taborda Dergint

by Roberto Cirino
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CoreconPR traz o artigo histórico da economia paranaense, Ário Taborda Dergint, que participou ativamente do planejamento do Paraná. Ele que era conhecido como professor Ário, foi entrevistado em 2012 para o informativo do CoreconPR e nos trouxe elementos históricos de sua vivência e contribuição ao Estado do Paraná. O economista, falecido no dia 29 de agosto de 2022, nos deixa esse seu relato.

Confira:

O Planejamento no Paraná

Relato do economista Ário Taborda Dergint

 

O Paraná foi pioneiro na adoção do planejamento no âmbito estadual. O Conselho Consultivo do Planejamento Econômico foi criado em 1955, a partir da sanção da Lei número 2431, de 03 de setembro, e a partir desta mesma Lei foi estabelecida a Comissão de Coordenação do Plano de Desenvolvimento Econômico do Estado do Paraná – Pladep. Com isso, foi dado início ao planejamento moderno no Estado. Para a implantação dessa atividade foi realizada a captação de elementos que serviram de subsídios para o Programa de Desenvolvimento Econômico do Paraná.

O órgão de pesquisas e planejamento, subordinado diretamente ao governador do Estado, surgiu na gestão de Adolpho de Oliveira Franco, que substituiu o mandato do engenheiro Bento Munhoz da Rocha Neto, que naquele momento fora convidado para assumir o posto de ministro da agricultura. Ao que tudo indica, a criação da Pladep já havia sido idealizada nos estertores do governo Munhoz da Rocha Neto.

A necessidade de um planejamento surgiu em virtude do aumento populacional e do crescimento econômico do Estado, evidenciado pelo grande aumento de cidades e, por consequência, maior demanda por água, tratamento de esgoto, energia elétrica e melhoria das condições de transporte e abastecimento. Na época, era comum a população vivenciar apagões, pois a capacidade de geração de energia elétrica era insuficiente para atender a população. A estrutura viária estadual era muito precária, o DER (Departamento de Estradas de Rodagens) não dispunha de recursos e não havia sequer a ligação entre o Norte do Paraná e o Porto de Paranaguá. Praticamente toda a exportação de mercadorias, principalmente agrícola, era feita pelo Estado de São Paulo.

O Estado se destacava na produção de café e de outros cereais. No ranking nacional, era o terceiro maior produtor de alimentos, produzindo 2,1 milhões de toneladas anuais. Já na educação pública, seguramente melhor do que nos dias de hoje, também havia falta de professores qualificados e salas de aula.

O Paraná precisava de um planejamento, pois necessitava de tudo. Para a instauração de um planejamento, era básico conhecer e estudar cada setor de forma específica. Para a coordenação da Pladep foi muito bem escolhido o engenheiro civil, coronel Alípio Ayres de Carvalho. Por ser um homem de muita influência, inclusive junto ao governo federal, foi mantido neste posto por Moysés Lupion, governador que substituiu Bento Munhoz da Rocha Neto.

Lupion assumiu o mandato em 1956 e foi convencido pelo coronel Alípio da necessidade de conhecer melhor o Paraná, aceitando a estrutura das subcomissões da Pladep como elemento básico para atingir-se aquele conhecimento, para só então executar-se um plano de governo. A Pladep foi constituída das seguintes subcomissões: agropecuária, energia e indústria, transporte e comunicações, educação e saúde, e economia e finanças. Cada subcomissão fora preenchida por pessoas que conviviam com a sua área ou foram destinadas ao conhecimento das distintas áreas. Essas subcomissões iriam fornecer os elementos para a criação de um Plano Governamental de Desenvolvimento Econômico.

O economista Ário Taborda Dergint, que na época tinha formação apenas em engenharia civil, foi indicado por David Antonio da Silva Carneiro Jr. para a Pladep para integrar a subcomissão de transporte e comunicações, cujo relator-chefe era o engenheiro civil Ruy Cavalcanti Albuquerque. Ele foi contratado como engenheiro tarifeiro do Departamento de Água e Esgoto (DAE) e colocado à disposição da Pladep, pois ela não tinha um quadro próprio de funcionários, eram todos ligados a outras instituições públicas estaduais.

“Eu aceitei o desafio porque sempre gostei de economia política, que era uma das disciplinas do curso de engenharia. Gostava da área de transporte. Então houve um casamento perfeito”, comenta Ário Taborda Dergint.

As subcomissões eram chefiadas por pessoas distintas: o engenheiro agrônomo Lycio Grein de Castro Vellozo (agropecuária), o engenheiro civil Arthur Miranda Ramos e o engenheiro civil David Antonio da Silva Carneiro Jr. (energia e indústria), o engenheiro civil Ruy Cavalcanti Albuquerque (transporte e comunicações), o médico Eloy Vicente Bettega (educação e saúde) e o economista Ernani Corrêa Reichmann (economia e finanças).

As subcomissões passaram por um tempo realizando estudos, coletando dados, fazendo projeções e diagnoses setoriais. Na área de transporte, um dos primeiros estudos foi sobre o Porto de Paranaguá, realizado pelos engenheiros civis Ario Taborda Dergint e Eduardo José Daros. E o que se fala hoje, já se dizia naquela época, sobre o problema do armazenamento de grãos e o desenvolvimento do setor ferroviário. Hoje ainda observa-se que o armazenamento continua sendo feito pelas extensas filas de caminhões que ficam à espera de seu translado para o transporte marítimo.

O problema era ainda maior na época, quando não existia a BR-277, que liga Curitiba a Paranaguá, pois havia somente a Estrada da Graciosa, período em que o café representava a produção do Paraná. Chegou a existir um sistema de rodízio. Em certos períodos, ora era permitida a subida dos caminhões, ora a descida da Serra do Mar. Com a construção da estrada de Curitiba a Paranaguá desafogou por um tempo este problema.

Para melhorar a qualidade da equipe, o coronel Alípio começou a mandar os técnicos para cursos complementares fora do Estado. Inclusive o entrevistado foi mandado, em 1957, para realizar o curso na Cepal (Comissão Econômica para a América Latina das Nações Unidas), cuja sede era em Santiago, no Chile. O curso servia para capacitação em problemas do desenvolvimento econômico.

Quando voltou do Chile, em 1958, Dergint veio com uma formação mais econômica, e o coronel Alípio atribuiu a ele a função de fazer o estudo econômico da Estrada de Ferro Central do Paraná, que liga Ponta Grossa a Apucarana, para avaliar o que isso significaria para o Estado.

O coronel Alípio chegou a criar uma subcomissão global de planejamento, da qual Dergint foi integrante. Chegou o momento em que havia a dignose setorial, e era o momento de pensar em um plano global. Coronel Alípio nomeou Ario como subcoordenador de planejamento. A forma prática de realizar um planejamento, no caso estadual, seria através do seu orçamento financeiro. Os diversos programas realizados pela Pladep deveriam ser fundidos em um programa global para o Estado. Logicamente, para ser aplicado, esse plano deveria constar nos orçamentos anuais e, assim, refletir uma programação em um prazo maior. Houve um esforço para convencer o setor legislativo da aprovação daquele orçamento, que refletisse o programa global de planejamento, mas conseguiu-se apenas em parte, pois surgiram interesses políticos que nem sempre apoiaram essa intenção do planejamento, embora o órgão de planejamento estivesse diretamente subordinado ao governador do Estado e, teoricamente, refletisse o interesse político do governo.

Em 1961, quando Ney Braga assumiu, o coronel Alípio foi convidado para ser secretário de Obras e Viação do Estado do Paraná. Quando, Ário Taborda Dergint, ainda na Colômbia, trabalhava junto ao grupo assessor das Nações Unidas, recebeu dois convites, um de Ney Braga, para assumir a coordenação do Planejamento do Estado, e outro do então general Alípio, para a direção do Porto de Paranaguá. Devido à sua formação e à experiência na área do planejamento, Ário achou de maior conveniência assumir a direção do Planejamento do Estado, onde permaneceu praticamente por dois anos.

Por uma série de circunstâncias, inclusive o comportamento de caráter executivo do governador Ney Braga, e também pelo fato das necessidades do Estado serem evidentes no setor de energia e transportes, já anteriormente definidas pela Pladep, julgou de sua conveniência deixar o órgão de planejamento. Então, em 1963, por convite do próprio governador, passou a integrar o Conselho de Desenvolvimento do Extremo Sul (Codesul), órgão que, quando era coordenador da Pladep, havia participado da criação do Sistema Codesul-BRDE.

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