“Segundo economistas, não se pode dizer que a inflação está fora do controle. Entretanto, ela está pressionada e o cenário é preocupante. Muitos são os desafios. A taxa de juros deverá permanecer nos dois dígitos, em média 12%, durante o próximo ano. Já o PIB não ultrapassa a casa de 1,0%.
As notícias não são das melhores para o Brasil e o Paraná para o próximo ano. Economistas representantes dos principais setores da economia paranaense que se reuniram na última quarta-feira (03) no Conselho Regional de Economia do Paraná (CORECONPR), para debater as perspectivas do Brasil e do Estado para 2015 foram taxativos: “Este será um ano para colocar a economia nos trilhos”. Não haverá crescimento significativo. O Produto Interno Bruto deve chegar na casa de 1,0% apenas.
Para começar, as taxas do Índice de Preço ao Consumidor (IPCA) administrado, aquelas com monitoramento do governo, como energia, transporte urbano, combustível, gás, telefone, terão aumento. A medida é necessária para equilibrar o mercado explica o economista Lucas Dezordi, coordenador do curso de Economia da Universidade Positivo (UP) e conselheiro do CORECONPR.
“A inflação oficial vai fechar próxima a 6,5% no ano que vem. E, as condições macroeconômicas para um crescimento mais expressivo ocorrerá a partir de 2016. Não podemos fazer a leitura de que a inflação está fora do controle. Entretanto, ela está pressionada e o cenário é delicado. É preciso que haja um realinhamento dos preços do IPCA Livre e Administrativo”, diz o economista.
Ele reforça que o aumento dos preços administrativos em 2015 vão se refletir na elevação de impostos e tarifas. Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto de Renda (IR) devem subir no próximo ano, assim como o preço da passagem de ônibus.
Dezordi também destaca que a Selic, taxa básica de juros, corrige preços livres, como colégio e outros gastos pessoais, por exemplo, e não os administrativos. Além disso, de acordo com ele, “pouco provavelmente” teremos juros abaixo de 12% em 2015. “Há neste momento desvalorização do câmbio, perda de poder aquisitivo e perda do poder de compra internacional”. Em 2016, com previsão de equilíbrio da economia, começa a reduzir a pressão sobre a inflação e o índice deve baixar para 11,25%.
“Hoje, temos a indústria para acertar, a economia para colocar nos trilhos, vamos perder um ano de crescimento. Há deficit de transações correntes entre 3,5% e 3,7%, maior do que nos anos de 2003 e 2004.
Safra agrícola – O crescimento da safra agrícola será mais modesto e os preços do milho, trigo e soja já estão menores.
PIB Paraná e Indústria – A indústria paranaense (automotiva e de produtos eletrônicos) vem sofrendo muito com o cenário nacional. As vendas no varejo (comércio) estão fracas e com isso o Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná vai crescer mais próximo do PIB nacional em 2014 e 2015. Isto é, numa média entre 0,2% e 0,8%, respectivamente.
Política Fiscal – A melhora no superávit primário (saldo positivo nas contas do Governo Federal, muito utilizado para pagar juros da dívida pública) chegará a 0,20% neste ano. Em 2015 em 1,00% e em 2016 a 1,80%. “Imprescindível para ajustar o ambiente macroeconômico. O ideal seria um aumento entre 2,5% e 3% o que melhoraria a expectativa sobre a inflação e a curva de juros”, diz Dezordi.
Ainda de acordo com o economista, se os preços forem realinhados, em 2016 deve haver uma retomada do crescimento, sendo puxada principalmente pela Agropecuária, que é bastante suscetível ao câmbio. “A inflação fica mais próxima de 3% ao ano a partir de 2017”, finaliza.
Desafios 2015
A nova equipe econômica anunciada pela presidente Dilma Rousseff terá que trabalhar duro para:
– Melhorar o nível de confiança dos empresários e consumidores;
– Evitar o rebaixamento das notas de classificação de risco dos títulos públicos, no cenário internacional;
– Manter o nível do Grau de Investimentos;
– Ampliar a transparência da política fiscal e buscar obter um superávit primário acima de 2% do PIB, a partir de 2016;
– Evitar uma expansão do crédito (público e privado) acima de 12% ao ano;
– Desenhar uma nova estratégia de crescimento e desenvolvimento econômico, com foco no avanço da produtividade e redução nos custos de produção;
– Compromisso, a longo prazo, com uma taxa de inflação mais próxima de 3% ao ano.
Fonte: CORECONPR
INDÚSTRIA
O economista Roberto Zürcher, do Departamento Econômico da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), considerou 2014 um ano de “tragédia” para a indústria. “O terceiro ano de queda após o Plano Real”. Todavia, ele acredita que o “fundo do poço” já passou, e prevê que a indústria do Paraná deve retomar o seu dinamismo e crescer acima da brasileira. Para Zürcher, agosto foi o pior mês, com demissões no setor. “Só em 2017 vamos voltar ao normal.”
A Indústria não tem bons números como a Agricultura, comparou Zürcher, durante sua explanação sobre o setor, no CORECONPR. Entre os principais motivos estão o fato do crédito ser bastante fácil para o consumo e mais difícil para a produção, o que torna factível uma crise. Ele lembra que o crédito pessoal subiu 1.271% nos últimos anos, enquanto que para a pessoa jurídica ficou em 441%.
Zürcher também ressalta que a participação das economias emergentes vem crescendo. “Todavia, não crescemos como o resto do mundo. O Comércio Internacional, em termos monetários, cresce um Brasil a cada ano. A Europa cresceu 500% a mais do que nós. O Brasil cresce um Estados Unidos a cada 6 anos. Então, nós não estamos crescendo”, frisa ele.
A boa notícia é que mesmo com um cenário considerado ruim, nacionalmente, “temos uma indústria forte, o Paraná cresceu mais de 60% nos últimos 10 anos. O dobro do Brasil”, ressalta.
Futuro – A indústria do Paraná deve retomar seu dinamismo em 2015 e crescer acima da média nacional. Por outro lado, diz Roberto Zürcher, se ocorrer aumento de impostos estaduais, corre-se o risco de haver uma saída de indústrias para Santa Catarina. O crescimento do PIB Paranaense não deve mostrar o dinamismo dos últimos 4 anos e ficará abaixo da expansão do PIB nacional (principais motivos: preços de commodities, crise Argentina, situação financeira do Estado).
Ele também destaca que apesar da situação econômica nacional, o Paraná é um Estado visado para receber Investimento Estrangeiro Direto (IED).
AGRICULTURA
Embora a Agricultura seja um dos setores de maior aumento de produtividade no Brasil e o Paraná considerado um estado muito diferenciado nesse setor, ainda há muito o que se fazer. Além disso, é preciso lembrar que a área agrícola está chegando no limite para a produção de grãos no Paraná. O crescimento de 18% no setor vai ser menor que no restante do país, e o estado deve perder posição.
Segundo o economista Pedro Augusto Loyola, coordenador do Departamento Técnico Econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), estes são alguns pontos que precisam ser revistos para que o Agronegócio no Brasil e no Paraná continue colhendo bons resultados:
– Necessidade de maior estabilidade macroeconômica para ampliar o horizonte de planejamento para os agricultores e agentes das cadeias produtivas do agronegócio e reduzir riscos econômicos e financeiros;
– Regulamentação clara nas áreas ambiental, de biossegurança, seguridade dos alimentos, segurança biológica, do trabalho e de relações internacionais;
– Investimento em logística, defesa sanitária, P&D para agropecuária, educação técnica e superior na área Macrosetorial e de provisão de “bens públicos”;
– Marcos regulatórios para a área internacional;
– Ampliação do financiamento para o produtor, maior assistência técnica e extensão rural, gestão dos riscos do negócio agropecuário.
– Aumento de Produtividade.
O Paraná é considerado um país dentro do Brasil, muito diferenciado por sua agricultura, um dos setores com maior aumento de produtividade, 69% de 1995 para cá. Um crescimento de 143% na produção, numa área agrícola que teve aumento de apenas 44%. A Agricultura familiar corresponde a 74% da produção de 1 milhão de empregos.
Avicultura (frango, carnes, frango de corte) tem o segundo valor bruto de produção. O milho possui o 3º valor bruto, sendo a soja o carro chefe. Para 2015, a previsão é que a safra de grãos do Paraná atinja 37,9 milhões de toneladas contra os 36,1 milhões de 2014. A área de feijão deve diminuir 19%, a de milho 10%. A de soja deve ser 3% maior. Já, o leite deve ter oferta maior do que a demanda.
Por outro lado, segundo Pedro Loyola, o Governo não tem política adequada para a plantação do trigo e quando ela acontece é fora do tempo. “O governo deprimiu mais ainda o trigo por conta da inflação e ao dar isenção de 1% para o trigo exportado”. Além disso, “a falta de um plano de seguro agrícola traz mais instabilidade ainda, e [neste caso] a gente tá falando de trigo, milho e feijão. Na área de grãos de verão 87% é soja. É preciso diversificar”, finaliza.
Números da Agricultura no Paraná
– 74% das exportações do Paraná provém do Agronegócio;
– Maior exportador de carne de frango do Brasil, com participação de 31,2%.
– 2º maior produtor de grãos;
– 1º lugar em produção e exportação de Açúcar, Café, Laranja (suco);
– 2º lugar em produção e 1º em exportação de Álcool e Tabaco;
– 2º lugar em produção e em exportação de Soja (complexo) e Bovino;
– 532.840 Propriedades Rurais;
– 1.097.438 empregos gerados.
EMPREGOS
De acordo com o economista do Departamento Intersidical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fabiano Camargo da Silva, apesar do cenário atual não ser dos melhores o setor de empregos continua com dados positivos. Ele lembrou que a geração de empregos formais no Brasil entre janeiro e outubro de 2014 foi de 912.287 postos de trabalho. No Paraná o número é de 84.720.
Mesmo ressaltando que o momento é marcado por incertezas, baixo crescimento, persistência da crise internacional, e que o desempenho da economia e a geração de empregos para 2015 depende do tipo de ajuste que será feito pela nova equipe econômica, o Dieese mantém boas expectativas em relação às seguintes questões: continuidade da geração de empregos; processo de aumento da renda (negociações coletivas, salário mínimo, piso regional PR, programas de transferência de renda); e manutenção de baixas taxas de desemprego.
O crescimento dos empregos formais no Brasil entre os anos de 2003 e 2013 foi de 65,67%, com uma geração de 19,4 milhões de postos de trabalho. No Paraná, neste mesmo período, o crescimento foi de 65,65%, com geração de 1,2 milhão de empregos. O maior número de vagas ocorreu no setor de Serviços, seguido pela Indústria da Transformação e da Construção Civil.
Por outro lado, o Dieese continua a ver os seguintes problemas no mercado de trabalho: informalidade alta; salários baixos; rotatividade alta; diferenças salariais entre gênero e raça; problemas com Saúde e Segurança do trabalho.
Além dos economistas da FAEP, FIEP, DIEESE e UP, o CORECONPR chegou a convidar economistas deputados, que por ocasião de agenda, não puderam estar presentes.
Fabiano Camargo
Roberto Zurcher
Pedro Loyola
Lucas Dezordi
CORECONPR reúne economistas do DIEESE, FIEP, FAEP e UP para analisar a economia. Crédito : Sans Michel
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