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Peculiaridades da Retomada do Crescimento Brasileiro

by Roberto Cirino
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Gilmar Mendes Lourenço

As recentes rodadas de indicadores correntes e de expectativas, elaborados por instituições de pesquisa e entidades de classe, vem oportunizando a disseminação do sentimento de formação de um embrião de retomada da expansão econômica no Brasil. De fato, a produção industrial brasileira cresceu por quatro meses seguidos, entre abril e junho de 2016, em comparação com períodos imediatamente antecedentes, acumulando variação de 3,5%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Além disso, o faturamento real, as horas trabalhadas e a utilização da capacidade instalada industrial voltaram a crescer em junho de 2016, em relação a maio, conforme demonstrado por levantamentos da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A mesma entidade vislumbrou o desenho da recuperação da confiança de empresários industriais, a partir de julho, e consumidores, em agosto, sendo este último aspecto corroborado por sondagem da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

A inversão de sinal da atividade industrial e o retorno de visão menos pessimista acerca do futuro de curto e médio prazo vêm conduzindo a interpretações de superação da intensa e prolongada recessão que atinge o País, evidenciada pelo declínio de -8% do produto interno bruto (PIB), entre abril de 2014 e março de 2016, em contraste com o incremento ininterrupto da economia global, a partir de 2009, considerado o mais longo e generalizado, embora lento, desde 1991.

Mais especificamente, depois de onze trimestres consecutivos de retração, os patamares de produção fabril subiram 1,2%, entre abril e junho de 2016, em comparação com o intervalo compreendido entre janeiro e março, puxados pela impulsão dos bens de investimento (máquinas e equipamentos), que acusaram evolução de 6,6%.

Tal performance foi fortemente influenciada pela multiplicação de movimentos de substituição de importações, determinada pelo rearranjo de preços relativos, provocado pela depreciação do real, verificada desde 2015, o que serviu para encarecer e comprimir a capacidade competitiva das aquisições externas de bens de consumo e de produção.

Mesmo reconhecendo que a indústria ostenta o poder de antecipação e liderança da marcha do restante do sistema econômico, por interferir expressivamente no funcionamento do restante do aparelho de transações, por conta de seus efeitos irradiadores para frente e para trás, e responder, de forma mais rápida, a indicações de alterações de expectativas, soa precipitada a interpretação de que estaria em constituição um estágio de consistente reerguimento do ciclo de negócios.

É preciso atentar para a base de confronto bastante deprimida, representada pelo final de 2015 e princípio de 2016, ápice da fase de contração econômica, o que sugere cautela nas apostas acerca da ascensão recente do complexo industrial, situando-o ainda 18% abaixo do topo, contabilizado no começo de 2011. Até porque, quando se considera, como referência de cotejo, o primeiro e o segundo trimestre de 2015, identifica-se decréscimo de produção de –11,5% e -6,7%, respectivamente, em 2016.

Ademais, o segmento industrial, particularmente o de transformação, amargou pronunciada compressão de sua força de empuxe da matriz de produção, atestada pela rápida e substancial diminuição de peso no PIB, descendo de 17,8%, em 2004, para 11,4%, em 2015.

Em paralelo, os serviços, marcados por menor eficiência e acentuadamente dependentes da marcha da renda e do emprego, variáveis reconhecidamente em flagrante regressão, experimentaram elevação de contribuição na geração do produto total de 64,7% para 72%, em igual período.Por uma ótica conjuntural, o volume dos serviços exibiu recuo de -0,5%, no mês de junho de 2016, frente a maio, -3,4%, em relação a junho de 2015, e -4,9%, no primeiro semestre e nos últimos doze meses, conforme a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), efetuada pelo IBGE.

No interior do setor, o volume de vendas do comércio varejista decresceu, em junho de 2016,-0,2%, em confronto com maio, -8,4%, em relação a junho de 2015, -9,3%, em seis meses, e -10,1%, em doze meses, em decorrência da drástica redução do consumodas famílias (que representa mais de 63% do PIB), associada à corrosão dos rendimentos reais (com disparada do desemprego e a resistência da inflação), à ressaca do créditoe à disparada do endividamento e inadimplência da população.

Por tudo isso, paira dúvidas quanto às chances de irradiação das mudanças de humor dos agentes sociais – provocadas notadamente pelo delineamento do desenlace da crise política – para o lado real da economia, ensejarem a edificação de um círculo virtuoso capaz de provocar a interrupção da escalada do desemprego e do encolhimento da renda das famílias, assinaladas por diferentes investigações mensais.

Nessa perspectiva, é prudente lembrar que a construção civil, subsetor que traduz a dinâmica cíclica do ambiente econômico, retratando o curso das obras públicas e da demanda por edificações comerciais e residenciais, grande absorvedor de mão de obra não qualificada, prossegue asfixiada pela compressão das fontes de financiamento (fundo de garantia por tempo de serviço e cadernetas de poupança) e pelos impactos dos escândalos apurados no âmbito da operação Lava Jato, envolvendo uma teia de empreiteiras.

Ao mesmo tempo, as exportações, por representarem apenas 13% do PIB, não possuem fôlego suficiente para replicar os efeitos da reativação da economia mundial e da desvalorização cambial, e atuar como válvula de escape ao encolhimento da demanda doméstica, sobretudo porque a nação abdicou – nos tempos recentes – caracterizados pela aplicação da chamada nova matriz econômica, ancorada em intervencionismo populista na administração dos preços-chave (câmbio, energia, transportes e juros) e na concessão de subsídios tributários e creditícios a grupos escolhidos por critérios pouco transparentes -, da tarefa de perseguição da inserção competitiva de empresas e setores, por aqui atuantes, nos mercados externos.

Gilmar Mendes Lourenço, Economista, Consultor, Professor da FAE Business School, Ex-Presidente do IPARDES.

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